top of page

Prefácio

     Numa cidade como São Paulo, em que o carro é ainda tomado como prioridade, a relação das pessoas com o espaço se dá de forma variada e cada vez pior. A percepção da precariedade de um mundo cenografado se torna valor ao ser tomada como realidade.

     As grandes distâncias entre o morar e o trabalhar faz com que não queiramos nos deter em nada durante estes trajetos insuportáveis: estamos exaustos.

     Os artistas da rua, livres, decalcam as belezas de seus imaginários sobre a cidade apressada e oferecem concretamente a transformação de nossos percursos em alegria, em pensar, em identidade e reconhecimento. Trata-se de compreender que, de alguma forma, não estamos sozinhos.

     Submersos nesta massa surge do rio Pinheiros, objeto focal deste projeto, a possibilidade de reconstrução, ou antes, de remendar um não lugar, um anti-lugar, um lugar indesejado. Nosso vício capitalista opera o desperdício como uma vaidade e assim um lugar é destruído para que se gerem lucros.

     Perguntamos: que cidade queremos?

   Não queremos salvar, não queremos retorno ao passado, não queremos a beleza dos monumentos. Falamos de convívio.

     Assim, o fazer cenográfico torna-se ação e se dá no tempo, nas redes, desmaterializa-se. O decalque, o stencil, a inscrição direta no espaço da cidade, no fluxo, a imaginação das imagens em movimento, acompanhando os carros, para ser vista pelo satélite, planetária.

     Cada indivíduo, ser político, é parte integrante deste processo, agindo ou não. A pergunta é posta, a memória é provocada à participação. A vida como performance, a live art, fala direta. Assim, eu viro rio.

 

Renato Bolelli

bottom of page