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Conceito

   Pense na relação pessoa-espaço, pessoa-cidade. Supostamente as pessoas deveriam caminhar livremente pela cidade [1], mas o ambiente urbano te impede de usufruir dos espaços. O modelo urbano não favorece as interações que deveriam acontecer.

  A cidade de São Paulo, um centro econômico importante no Brasil, sofreu um desenvolvimento industrial acelerado e desenfreado, que resultou numa ocupação urbana não planejada e num processo de expansão descontrolado.

   A expansão urbana ultrapassou as fronteiras do rio. As relações econômicas antes estabelecidas (areia, pesca) foram deslocadas junto com as fronteiras da cidade. O rio que antes delimitava esse espaço, tornou-se um coadjuvante deste cenário. Ao perder seu potencial econômico, manteve-se apenas a condição de receptor da matéria rechaçada pela sociedade.

  O progresso impôs transformações na mobilidade. A recém chegada da indústria automobilística repercutiu na necessidade de construir-se vias expressas, que representassem a velocidade do crescimento da cidade de São Paulo. A Marginal Pinheiros virou um ícone deste progresso. A implantação dessa via nas margens do rio criou uma barreira migratória [2], é preciso passar por diversos obstáculos para se alcançar o outro lado da fronteira.

     A relação entre a sociedade e o rio se desvaneceu. A dificuldade de acesso impossibilita a interação social com o rio e sua putrefação é resultado do abandono do espaço. Essa ociosidade gera espaços inapropriados [3], o rio se transforma em um não-lugar. À medida que procuramos esse não-lugar e lhe damos valor de uso [4], ele se re-significa, não se torna um lugar preciso, mas um lugar de prática e uso, um meio-lugar. Conseguimos transformar o rio em um meio-lugar intervindo nele, ao lançar olhares e provocações. (CARERI, 2013)

 


[1] Em 1933, a assembleia do CIAM (Conselho Internacional de Arquitetura Moderna) redige a Carta de Atenas, que se tornou o primeiro ato normativo internacional a discutir a salvaguarda e o restauro dos monumentos. Nesse tratado, o arquiteto Le Corbusier defende o livre caminhar do pedestre, sem a interferência de obstáculos edificados. (BENEVOLO, 2006)
[2] Em comparação com as barreiras imigratórias de aeroportos., nas quais os passageiros necessitam passar por diversos obstáculos físicos para conseguir atravessar a fronteira entre os territórios.
[3] O esvaziamento de espaços urbanos, não só geram monotonia social, como a degradação urbana. É necessário que se instigue o funcionamento e mobilidade da cidade, atraindo vida e segurança urbana. (JACOBS, 1961)
[4] No inicio do século XX, o jurista, filósofo e historiador Alois Riegl revela “as exigências simultâneas e contraditórias dos valores de que o monumento histórico foi cumulando ao longo dos séculos”. Pela primeira vez foram definidas diferenças entre monumento e monumento histórico, acrescentando-se ao segundo valores que podem ser divididos em duas categorias: rememoração e contemporaneidade. O valor de rememoração está relacionado com a memória, com o tempo que se passou e sua historia, com a sua ancianidade. O valor de contemporaneidade está relacionado com valores que, de certa forma, adquirem adaptação ao tempo: o valor artístico e o valor de uso. (CHOAY, 1925)

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